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“Perdemos tudo”: gaúchos relatam dramas na tragédia das águas no Sul

Em meio à calamidade no Rio Grande do Sul, desabrigados lamentam separação de famílias, mas reconhecem e agradecem esforços dos voluntários

atualizado

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Lara Ely/Especial para o Metrópoles
Abrigo POA
1 de 1 Abrigo POA - Foto: Lara Ely/Especial para o Metrópoles

Porto Alegre – A água expulsou centenas de milhares de gaúchos de suas casas nos últimos dias. Para boa parte deles, a única opção que restou para escapar das enchentes históricas são abrigos organizados em cada cidade atingida, muitas vezes por voluntários, entidades privadas ou religiosas. Nesta reportagem, contamos histórias de pessoas que estão encontrando teto, calor e mantimentos nesses locais.

Apesar da tristeza de ter deixado uma vida para trás na cidade de Eldorado do Sul, a aposentada Jardelina Batalha conta que tem sentido o efeito do acolhimento dos voluntários no abrigo criado na Escola Santos Dumont, zona sul da capital. “Todas as nossas coisas foram perdidas. Ficamos sem luz. Perdemos tudo. Fiquei triste que meu outro filho não veio junto, está em outro local. Mas aqui está muito bom, parece um hotel. Tenho até ajuda para escolher roupa, tem café e esses moços atenciosos” diz, entre risos nervosos, Jardelina. Ela está acompanhada do filho Gelson e do seu cachorro, que veio junto no resgate.

 

Jociane Dornelles do Santos teve uma sorte diferente: foi resgatada com o marido, as três filhas, um filho e dois cachorros. Antes de chegar ao abrigo, porém, viveu momentos de tensão. Andou com água até o pescoço, ficou quase cinco dias ilhada, sem comida e sem dormir enquanto vigiava a casa tentando garantir a segurança das crianças. Chegou a recusar o resgate de helicóptero, pois não queria deixar os bichos para trás.

Quando chegou o jet-ski e o barco, se sentiu grata por poder sair de lá com a família unida. Entre os momentos do pesadelo vivido na última semana, Jociane relata que chegou a comer comida estragada. “Recebi uma marmita que estava fora do gelo há muitas horas, mas a fome era tanta que precisei”, recorda.

 

Segundo os dados mais recentes da enchente, são 327.105 pessoas desalojadas e 68.519 em abrigos. Os locais de acolhimento são os mais diversos: com apoio governamental, sem apoio, em áreas empresariais. A maioria tem uma característica comum: são administrados por grupos voluntários e surgiram de forma improvisada. Só em Porto Alegre, mais de 60 abrigos foram mapeados. Os locais também são variados: escola, CTG, sede de empresa, igreja, salão de festas. Em meio à tanta necessidade de acomodação, toda ajuda é bem-vinda.

Mas há critérios para ser voluntário. Com o passar dos dias e o aumento do número de pessoas se apresentando ao serviço de apoio, verificou-se na cidade um aumento do nível de organização (e exigência) dos estabelecimentos. Alguns locais atuam com escala de trabalho, controle na portaria de entradas e saídas, identificação das salas. As medidas foram necessárias depois que alguns casos de insegurança foram registrados.

Localizada na Assunção, zona sul da capital, a Escola Santos Dummont é o novo lar temporário de mais de 90 pessoas, dentre elas 30 crianças. O espaço conta com serviços especializados de cabelereiro, recreação infantil, cuidados para os pets, veterinários, atendimento de saúde, apoio psicológico e uma gestão bastante humanizada. A dupla de voluntários Diego Crivelaro de Almeida e Vitor Peres Zanon Schmitt é exemplo de como as relações humanizadas podem fazer a diferença para quem passa por momentos como este.

 

“Gostaria de lembrar às pessoas que estão sendo voluntárias que possamos humanizar as relações nos abrigos e procurar tornar esses espaços locais de boa convivência. Temos que procurar acolher as pessoas, isso nos ajuda a transformar essa tragédia em algo melhor para todos”, afirmou Crivelaro.

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